Friday, May 25, 2007

VIRTUAL

Na tranqüila-idade de sua auto-suficiência
Leio-te, poema
Mas as palavras em que me traduzo
não têm curvas
Como posso crer que são capazes de sedução?
Não têm olhos
pra ver-te a alma e nela refletir-me
Não têm voz
pra atravessar-te o corpo estremecendo-o de gozo
São só dígitos binários que por um dia
algum hacker me permitiu organizar de forma a me comunicar sem perturbar-me.
São pontos negros numa tela branca
não têm pele
Não têm movimento que te faça um vento
só rimas velhas pr´um homem jovem
Como explicar que me inspires à distância?
Só o que atravessa o mundo físico, para além dos limites do espaço...
E o que fica adormecido e oculto na mente
a que chamamos coração?
E um dia emerge, como do nada,
de forma tão nítida e clara,
como em tela de televisão?
Talvez eu reaja lentamente, mineiramente,
com anos-luz de distância,
a teus olhos
sinais vindos de um tempo antigo
como canção ouvida há muito
que tem braços e pernas
pra te alcançar a alma fugidia
e o coração dormente.