Wednesday, October 04, 2006

Ridículas declarações de amor


ESPELHO MÁGICO

Estão voltando os dias azuis
de luz intensa, coloridos de sol
trazem pessoas coloridas e flores
trazem amores.

Estão correndo as horas ao vento
passam perdidas. Ou será que não?
Passam movidas por uma canção
solta no tempo.

Se intensifica a minha ambição
o algo mais que eu quero ter
desse futuro que anda perto,
mas não é certo.

Passam sentidas as minhas paixões
com jeito de pé no chão
leio um romance, uma frase solta,
sem emoções.

Me olho no espelho e pareço gostar
vejo até à alma _ meu rosto me diz
que no lugar em que deves estar
estás feliz.

E tudo parece perfeitamente certo e lógico
por esse espelho mágico
mas eu sei que não serás meu jamais
e o espelho se desfaz.

RODRIGUEANA

Como é possível morrer
sem provar teu beijo?
Ferir com a lâmina meu corpo
antes de aderi-lo ao teu?
E sabendo que em algum lugar pulsas, ris e te divertes,
a vida não faz mais sentido?
Antes de um sorriso teu, não quero partir.
Queria sim, por teus braços,
alcançar o prazer e a pequena morte
a única maneira linda de morrer
neo-romântica
vampira notívaga
alimentar-me de teu olhar
e tornar o irrespirável aor possível
e a existência, uma brincadeira de criança.

POEMA PLATÔNICO

Perdão, eu disse
por não saber o que dizer
Uma comédia na tela e eu chorando
O tempo lá fora igual aos meus olhos
Uma dor tão funda, de raiz tão rasa
uma tristeza tão sem sentido
um sentimento tão sincero...
Tua voz, teus cabelos, teus olhos,
eram tudo que eu podia ver
Já não tenho olhos para olhar o mundo.
Meus olhos que foram tão teus...
As pessoas me obrigando a seguir convenções...
Mas eu nunca esquecerei
o não-havido, o não-amado, o não-pertencido...
A dor calada, a noite sem dormir, a chuva em meu rosto.
Queria final feliz pro nosso filme
Queria beijar tua boca, doçura
Acariciar seu rosto, meiguice
Que amor é este que tens por ela
que meus olhos sangrando não viste?
Ah, amor, saber que tu existes e que não me amarás,
é o próprio inferno.
Por quê o mundo é tão torto?

PELA PRIMEIRA VEZ

Fico a te olhar, de longe, no escuro
sob a luz da lua
sem poder me aproximar
e é então que eu sinto
como dói a separação
e eu começo a sonhar
que toque um velho blues
e te faça aceitar meu convite
implícito nesse olhar sob a lua
e eu não irei só pela rua
mas você virá ao meu encontro
com um sorriso nos lábios
me dizendo "my girl, I´m so bad witlhout you"...
e então will kiss me again
again
pela primeira vez

DAMA DO PARAÍSO

Quando senti a chegada daquela terra feliz
um rasgo de felicidade definiu-se em meu rosto
Mas depois dos paraísos deixados nos caminhos
depois do sonho vivido entre areias e coqueiros
volto à minha terra, também feliz.
No entanto, a minha felicidade consiste em ilusões
mantidas nesse estado constante de fantasias.
Você é uma ilusão.
Por isso te mantenho em meu pensamento
para fingir pra mim mesma que não estou só
Você perdeu só o paraíso
e a dama do paraíso
E eu fiquei com as mãos cheias de areia
e os olhos de solidão.

LITERATURA I

O amor que julguei haver
era tão atrevido e louco
que só em livros caberia
em aventuras a se perder

O amor que disserto em versos
é tão sem juízo e puro
que nem o vento o quer ter
e eu vou pixando o amor no muro.

O meu imenso amor platônico
é tão carnal e sem censura
é tão possesso e feroz
e é tão leve de ternura

Que o Deus do céu vai me impedindo
de acordar o vulcão dormente
enquanto tu vais me ferindo
e eu te buscando eternamente

O meu tão tolo amor errante
não entenderias jamais
vai tão sofrido e tão distante,
perdido em velhos jornais...

TRAGICOMÉDIAS
(A Fernando Antônio Nogueira Pessoa)

Vivo rindo das minhas ridículas declarações de amor
Nada há de mais risível e ao mesmo tempo mais poético
Nada há de mais desastrado e patético
nem tampouco mais aberto.

São poemas e cartas cheios de dor e ironia
Faço de todos os pequenos casos
e dos ainda não existentes
uma tragicomédia.

É para que eu me lembre deles, e ria
e nunca chore por deixar de tê-los feito.

ÂNSIA DE TI

Dizem que sou romântica
Dizes que sou ridícula
tenho medo do tempo que passa
tenho angústia do tempo que fica
quero a vida a sorrir todo dia
quero amar você no silêncio
sou um vento, eu sou poesia
sou tua raiva e tua alegria
e nunca serei tua eternamente
e nunca serás meu naquelas praias da Bahia.

NEBLINA

Quando partiste, não me disseste que era adeus.

Ocultaste nosso fim.

O que adianta dizer-te que te amei?

Naquela época te chamava de amigo.

Contas-me que vais viajar

correr todo o país, seis meses, talvez um ano.

Fico sem saber o que dizer ao telefone

esperei tua volta, pra quê?

Meus olhos neblinaram por todo o dia.

Dia seguinte, o rosto lívido,

jogo fora as pílulas tomadas em vão.

Estás feliz sem mim.

Me procuro no espelho

quero me convencer que amo a outro

e que _ graças a Deus! _ sou volúvel

Mas ainda sinto a falta de um rosto.