Thursday, October 12, 2006

fernando pessoa/bandeira/drummond


Vou dar um tempo nos meus poemas e colocar aqui alguns clássicos de que gosto: Primeiro, meu parente ilustre, Fernando Antônio Nogueira Pessoa.

No ouro sem fim da tarde morta
Na poeira do ouro sem lugar
da tarde que me passa à porta
para não parar

No silêncio dourado ainda
dos arvoredos verde fim
recordo. Eras antiga e linda
e estás em mim...

Tua memória há sem que houvesses
teu gesto, sem que fosses alguém
como uma brisa me estremeces
e eu choro um bem...

Perdi-te. Não te tive. A hora
é suave para a minha dor.
Deixa meu ser que rememora
sentir o amor,

Ainda que amar seja um receio
uma lembrança falsa e vã
e a noite deste vago anseio
não tenha manhã.

SONETO INGLÊS NO. 1 (M.B.)

Quando a morte cerrar meus olhos duros
Duros de tantos vãos padecimentos
Que pensarão teus peitos imaturos
da minha dor de todos os momentos?
Vejo-te agora alheia, e tão distante:
mais que distante _ isenta. E bem prevejo,
desde já bem prevejo o exato instante
que de outro será, não teu desejo,
que o não terás _ porém teu abandono,
tua nudez! Um dia hei de ir embora
adormecer no derradeiro sono.
Um dia chorarás. Que importa? Chora.

Então eu sentirei muito mais perto de mim,
feliz, teu coração incerto.

O SEU SANTO NOME (C.D.A.)

Não facilite com a palavra amor.
Não a jogue no espaço, bolha de sabão.
Não se inebrie com o seu engalanado som.
Não a empregue sem razão acima de toda razão ( e é raro).
Não brinque, não experimente, não cometa a loucura sem remissão
de espalhar aos quatro ventos do mundo essa palavra
que é toda sigilo e nudez, perfeição e exílio na Terra.
Não a pronuncie.